Review – Fusion Festival 2011

Publicado em 22/09/2011 - Por

Depois dos tempos de vacas magras, a cena psytrance curitibana aos poucos vai renascendo. Dentre os eventos que estão reacendendo a chama do estilo na cidade, um dos mais aguardados foi o Fusion Festival, que timidamente cresceu e demonstrou porte dos festivais já estabelecidos em São Paulo, com suas consagradas surpresas no line-up.

Essa espera acompanhou uma modesta expectativa por parte dos entusiastas que, finalmente, tiveram a oportunidade de ter um festival no quintal de casa (Campo Magro, 15km do centro de Curitiba). Para quem esta acostumado a viajar pelo menos 400km para poder ir numa festa semelhante, isso foi realmente agradável.

ESTRUTURA

O local escolhido, Chácara Beira Rio, em Campo Magro, pareceu bastante acolhedor para o festival: sem faltar espaço e nem sobrar. Infelizmente o estacionamento não conseguiu comportar o público e, a partir das 2h da manhã, já não era mais possível utilizar o estacionamento, sendo necessário estacionar na estrada que dava acesso.

Mesmo com muitas pessoas falando que iriam à festa só no período da manhã, às 2h30 já era possível ver a pista bastante cheia.

 

O bar, muito bem localizado, ofereceu o que todos sempre pedem: bebidas geladas e baratas. Os preços, por incrível que pareça, eram justos (água a R$ 3,00 e assim por diante). Em nenhum momento faltou bebida, inclusive diminuíram os preços das bebidas quando ainda faltavam umas 3 horas para acabar a festa: cerveja gelada a R$ 2,00. Qual foi a última vez que você viu isso? Inclusive, fomos surpreendidos positivamente no caixa, pois algo que as vezes falta até nos mega-festivais (XXXperiences da vida) estava presente: máquinas de cartão de débito.

Nos dias que precederam a festa, foi colocado no perfil da Fusion no Facebook, vários avisos para que o público contribuísse com a limpeza, jogando lixo no lixo. Admirável papel educador da organização mas que pecou feio em não esvaziar os latões de lixo, que logo pela manhã já estavam lotados. O público fez sua parte, parabéns.

CENOGRAFIA

Vamos começar por algo que tem sido preterido pelos grandes núcleos e é essencial para a festa: a tenda. O Fusion não só tinha uma tenda, como estava linda, e conseguiu proteger o público na hora que o sol, que contrariando as previsões, deu as caras de forma mais agressiva depois do meio-dia.

Durante a noite a decoração passou um pouco desapercebida sendo claramente voltada para o dia. Pouca iluminação, nenhuma luz negra na tenda e poucos movings no stage. A projeção falhou um pouco mas nada que atrapalhasse o andamento da festa.

O dancefloor foi presenteado com um céu claro e uma lua linda e brilhante durante toda a madrugada. 

ENTRETENIMENTO 

Outra coisa que tem sido preterida dos festivais comerciais (exceto Tribe) e agrega muito é a intervenção artística. Tivemos um show à parte com malabares de fogo durante as apresentações noturnas. No período da manhã, tivemos apresentações de dança do ventre entre as trocas dos DJs (duas apresentações). Para quem não está acostumado, foi uma excelente surpresa e deixou a festa ainda mais rica e mística.

SOUND SYSTEM

Item que sempre gera polêmica, no Fusion não foi seguida a regra: o sound system estava literalmente massacrando. De nada adianta uma festa linda se o soundsystem não colabora, afinal, o som ainda é o principal motivo para estarmos ali. E neste evento o som estava tão forte que algumas pessoas até precisaram se distanciar um pouco das caixas para conseguir “suportar” a porrada. 

LINE-UP

Agora vamos à parte mais aguardada do review: os DJs e Lives. A festa iniciou com muito full on night, o que aos ouvidos de alguns soou um tanto “pesado“, mas não deixou ninguém parado. 2012 deu poucas chances para o público respirar. Ital, um dos nomes mais esperados, terminou de tirar o resto de fôlego que ainda existia.

Com certeza um destaque da festa vai para Titicow vs Foca: som sério, reto, seco e sem piedade. Foi possível ver as pessoas perplexas, olhando uns para os outros e se perguntando “como assim?“. 

Dougue agitou a galera e Jumpers dividiu opiniões. Os outros destaques vão para Zaghini e AHO (projeto de progressivo de Daniel Carcur, Ital), este, muito esperado pela grande maioria, já que são raras as apresentações deste projeto. Uma pena que ela foi prejudicada duplamente: momento em que o sol esteve mais forte e por uma falha, um tanto quanto estranha, do soundsystem bem nos últimos 10 minutos.

Um ponto bem negativo foi a bagunça nos horários. Desde o início, o line apresentava um atraso de 30min, atraso que aumentou e acabou refletindo no final da festa. Como nada foi feito ao longo do dia para reajustar os horários, o problema caiu sobre os últimos DJs do line-up, Kadum e Element, que teriam que dividir a última hora do evento, em detrimento das duas horas a que teriam direito pela proposta original. Já é desagradável quando, na hora, você descobre que perdeu 50% do seu tempo, pior ainda se você tiver que improvisar um versus com alguém que você nem conhece, não é mesmo? 

Sendo assim, Marco Lisa (Element) abriu mão da sua apresentação e Kadum encerrou o evento. Ainda bem que ele conseguiu re-erguer a festa de novo, afinal, o sol havia colocado todo mundo de molho. Pessoas correndo para a pista e pulando na frente do stage deixou muita gente, mais uma vez, perplexa, sem entender o que estava acontecendo.

Mas ainda quanto à confusão, esperamos que fique de lição, pois uma falha simples de organização acabou prejudicando um profissional e também o público, que esperava ver sua apresentação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Fusion Festival veio na hora certa. Na hora em que muito se questiona a volta do psytrance ao mainstage, ao centro das atenções, à primeira fileira. O clichê do ciclo aqui é bem cabível. Psytrance teve seu auge, sua morte, sua troca, foi colocado de lado e 2011 está sendo o ano dos primeiros sinais que um novo ciclo está começando.

Como exemplo podemos citar a Tribaltech, que jogou o psytrance num canto em 2010, o trouxe de volta ao palco principal. Temos também a Tribe, que ficou 2 anos desaparecida da cena e retornou com um line-up digno de épocas pré-2008, com um mainstage 100% psytrance. Por fim temos o Tandava Gathering, que cresce a saltos quilométricos e já demonstra um line pra lá de promissor, tem tudo pra ser o último empurrão que faltava. 

Fusion Festival trouxe um alento aos amantes da psicodelia que há muito tempo não tinham uma experiência tão vibrante, ainda mais aqui, na nossa casa. Que o exemplo seja seguido e que muitos outros festivais como este estejam a caminho.

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Fotos por Rodrigo Gomes.

Nota da equipe: O Rodrigo R. é um dos mais ferrenhos defensores do bom e velho psytrance, inclusive um dos que mais lutaram pela volta da tal psicodelia ao site Psicodelia.org. A partir de agora ele irá colaborar conosco, trazendo mais conteúdos voltados para essa cena que é a nossa raíz e, vergonhosamente, andava esquecida por aqui. 

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